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quarta-feira, 20 de abril de 2011

E existe razão?

(Para Daviane e Burga)

-Poxa! Acordou inspirada hoje hein!
-Pois é.
-O que aconteceu?
- Nada, ué!
-Teve algum sonho erótico?
-Eu não.
-Tem certeza?
-Tenho.
-Mas que pressa, hein!
-Então. Tenho plantão no hospital daqui a pouco.
-E o que isso tem a ver?
-Estou com pressa.
-Parece até coisa de homem, que chega chegando, sem pedir licença e já vai logo ao assunto...
-Mas se o melhor de tudo é o assunto...
-Poxa !
-Algum problema? Você se incomodou, Eduardo?
-Não, só to comentando.
-Ahan... Acho melhor não comentar...
-É que assim, sem beijo na boca, com tanta pressa e furor, eu estranhei.
-Beijo na boca é pra fazer amor.
-Como é que é?
-Beijo na boca é pra fazer amor.
-E o que foi que a gente fez??
-Nós transamos.
Eduardo tentou conter sua irritação .Era um excelente representante de sua espécie, não pegaria bem fazer biquinho e ficar de mal. Levantou, pegou um copo de água, acendeu um cigarro e ficou olhando pro teto, em silêncio.
-Vem cá, vai, Edu...
-O que que é agora?
-Fala baixo pra não acordar os gêmeos! Desfaz o bico, apaga o cigarro, coloca Os mutantes ou Caetano pra tocar e vamos fazer um papai-mamãe.
-Não precisa ser sarcástica não, só te achei um pouco ...um pouco....
-Um pouco agressiva?
-É...sei lá..
-Eduardo, você vai querer que eu te libere o cartão de crédito para uma tarde de futebol de botão no shopping também? Quer que eu mande flores? Ou quer que eu lhe faça uma poesia?
-O que você está querendo dizer com isso, Monica?
-Naada, amor....só estou querendo chamar sua atenção, pois tenho sentido você tão distante....Você acha que eu engordei? Será que preciso de um peeling facial? Acho que estou feia, por isso você não liga mais pra mim, é isso....
-Não, amor, não é nada disso! Você está linda! Você é a coisa mais linda dessa vida. Lembra quando nos conhecemos? Você falava coisas sobre Brasília, sobre magia e meditação ...
-Edu, quando nos conhecemos eu era esotérica, vivia bebada e nem sabia se queria ser lésbica ou hétero.
-Ah, Moniquinha, você sempre foi a mulher da minha vida! Me ensinou a beber, a fumar maconha....
-Que nada, você não me ama mais, perdi o encanto pra você quando me decidi sexualmente e terminei minha residência...Virei uma mulher...de família! É o fim, é o fim....
-Imagina, amor, deixa de bobagem, e vem aqui com seu Edu, vem...
Pronto. Mônica, esperta que só, conseguiu resolver o probleminha de insegurança masculina.
Embora fossem diferentes em tudo, eles se entendiam bem, e ela sabia que de fato, não existia razão para aquela encanação toda...

“ ... E todo mundo diz que ele completa ela e vice versa, que nem feijão com arroz...”
( Eduardo e Mônica, Legião Urbana, 1986)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Eu já falei aqui no meu Blog, de Francisco Itaerço, poeta , pai, amigo ,ser humano de primeira grandeza , que me adotou há algum tempo como filha, embora eu já o tivesse adotado antes, como pai.
As coisas que ele escreve, são um carinho pra qualquer criatura que seja portadora de um mínimo de sensibilidade.
Hoje, eu ja acordei emocionada, por conta de um filme que assistimos ontem: Estamos todos bem, com Robert de Niro. Chorei e reclamei, dizendo que nao assisto mais filme de chorar.
Aí vou ler meu jornal preferido e dou de cara com a carinha dele . Pensei: Epa! Texto de painho! Coisa média nao é! E comecei a ler. Ja estava com aquele nó na garganta pela epígrafe. Aí começa a poesia. E eu me contendo. Mas, quando chegou no final, ele me deu um golpe fatal, aí já viu: nao deu pra segurar.
Esses são os presentes, o lado bom da vida virtual, muitas vezes mais real e mais profunda do que se pode imaginar.
Obrigada, painho.
Obrigada .







DESABAFO
UMA POESIA DE FRANCISCO ITAERÇO

“vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não vem de vós.
E, embora vivam convosco, não vos pertencem…
(…)Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.” (Gibran)



Bendito o útero que gera,
Bendito o seio que cria;
Maldita as circunstâncias que obrigam
Os pais a abandonarem a cria.

Bendito os filhos que crescem,
Bendita a causa justa que os afasta de nós;
Maldita a solidão que sentimos
Quando ficamos a sós.

Filhos, uma dádiva de Deus:
Nascem, desenvolvem-se e nos deixam.
Portanto, quem os tiver
Curta-os antes que eles cresçam.

Porque de nada lhes adianta
O imenso saldo de afeto,
Pois jamais tê-los-ão
O tempo todo por perto.

Se eles crescem e nos deixam,
Diz-me, Senhor, por que tê-los?
Mas se assim não o fizer,
Meu Deus, como vou sabê-los?

Do livro: “CADA POESIA UMA HISTÓRIA”, 29/10/2001.
Dedico-o a LUCIANE TREVEJO, minha filha adotiva.

sexta-feira, 15 de abril de 2011



" LEMBRANDO EM CADA RISO TEU QUALQUER BANDEIRA.....
FECHANDO E ABRINDO A GELADEIRA A NOITE INTEIRA....."

(BOM MESMO É TER HISTÓRIAS PRA CONTAR.
LEMBRAR É VIVER DUAS VEZES.)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Que porre, hein...


                                                   


Eu, na condição de curiosa, em  que me classifico, vivo fuçando textos, garimpando alguma coisa atual que seja interessante e que saia do lugar comum.
O que mais tenho encontrado, são blogs de pessoas se auto -promovendo, falando de suas inesgotáveis qualidades, e do quanto são felizes e especiais para si mesmas e para o mundo que as cerca.
Gente,  me poupem.
Queremos ler textos de pessoas normais, reais , concretas.
Eu sou uma pessoa que adora coca cola e por isso tenho celulite.
Com o passar dos anos, minha cintura , assim como meus braços, estão engrossando.
Vou fazer lipo assim que as finanças permitirem, pois sou fútil, gosto de me sentir bonita.
Adoro ter meus cabelos lisinhos, com aquele movimento que só o cabeleireiro sabe proporcionar.
Mas faço escova em casa pra economizar a grana e poder comprar livros ou alugar bons filmes.
Adoro perfume, mas só os importados, desculpem, não sou humilde.
Sou impaciente, intransigente, espero sempre a perfeição de mim e do outro.
Mas  não sou perfeita.
Jogo os cabelos que caem no chão do box  pelo vitrô.
Deixo pra estudar na véspera e passo todo meu tempo de sobra lendo livros que acho horríveis e densos , mas que depois, me deixam uma bagagem imensa, porém, não sei onde utiliza-la.
Gosto de muita gente, sinto saudades, mas a recíproca nem sempre é verdadeira.
Acordo de olhos inchados, parecendo uma monstra e isso tira meu foco da magia que é ver o despertar do sol.
Compro coca cola no posto, tomo dois goles e fico procurando alguma criança no sinal, morta de sede pra dar a latinha. Mas só as encontro quando não tenho  nem uma moeda a oferecer e isso me irrita.
Brigo e não peço desculpas nunca. O máximo que consigo fazer, é me reaproximar, com cara de tacho.
Em momentos  de estress, não penso, não vejo e não ouço nada, e nesses momentos, magôo as pessoas, ao ignorá-las, sem nem me dar conta disso.
Muitas  vezes me sinto só, mas não ligo pra ninguém pra vir em casa tomar um café com creme, ou um suco gelado.
Com meus 40 anos, não tenho a menor certeza do que vou ser, do sei fazer melhor, se vou chegar a algum lugar que valha a pena.
Duvido cartesianamente do amor e das pessoas, pois a vida me mostrou que as coisas devem ser assim.
Mergulho de cabeça e no meio da queda, quero voltar pra trás, tentando me agarrar a algo que me segure, pois tenho medo do quanto o mar é fundo e não quero me afogar.
Roo a cutícula quando nervosa, odeio quando balançam a latinha de coca cola pra ver se ainda tem algo dentro, e com isso, acabam com o pouco do gás restante.
Tenho horror a gente sem ética, sem moral, sem bom senso e ao invés de simplesmente as ignorar, eu me incomodo com elas. Ou seja, me deixo abalar por qualquer fator externo.
Sou a única , numa fila de banco, a discutir com a mãe que deu um tapa na cara da filhinha, enquanto as demais pessoas, simplesmente fingem não notar, ou seja: sou muito, mas muito encrenqueira.
Não bebo e odeio gente bêbada.  Pessoas sem noção, alteradas, falando alto, gesticulando sem classe, sendo inconvenientes, me incomodam. E se eu bebo,  me torno igualzinha a eles . E vomito.
Parei de fumar por achar ridículo um vício ser mais forte que eu , mas isso é um discurso hipócrita, já que sou viciada em coca cola.
Sou chata, sou brava, intransigente, mas seria injusta se dissesse que o mau humor faz parte da minha personalidade. Alegre e divertida eu sou, e muito, quando a vida me permite ser.
Não aceito a morte de pessoas queridas, não aceito a miséria em que vivem milhares de trabalhadores e não tenho a menor esperança de que as coisas irão mudar.
Gosto muito mais de transar do que ir à missa.
Tomo pouca água, como  frituras , e não faço caminhada.
Odeio gente falsa e chata, que se acha de fato o máximo.
Adoro ouvi-lo rindo na sala assistindo Seinfield ou Friends.
Adoro a risada dela, alta e exagerada como a do pai,
Mas não suporto a bagunça que ela deixa pela casa e por  falta de calma e equilíbrio,  isso acaba sempre  em brigas homéricas.
Não me incomodo de dormir com a louça por lavar,  mas não durmo sem banho, nem que a vaca voe.
Tenho horror a ginecologista e a dentista, embora nunca deixe de ir.
Tenho o terrível habito de deixar pra me maquiar no ultimo instante.
Odeio rolo de papel higiênico vazio .
Odeio a possibilidade de saber que numa guerra nuclear, eu vou, as baratas ficam.
Odeio  saber que a realidade é que as pessoas  mentem, independente de suas razões.
E definitivamente, detesto, com todas as forças do meu ser, gente boazinha que se acha o máximo, acorda de bom humor  e fala o quanto é boa e acha tudo lindo e maravilhoso: “Eu sou isso e também sou aquilo!” “Eu sou assim e assado!”
Ah, que saco , hein !Deus me livre ser Sandy, que só pega o Lucas Lima!
Eu sou um porre, me desculpem, mas essa sou eu e eu sou de verdade , e  são pessoas como eu, que encontro pela vida , o que me faz pensar que estou no mesmo planeta que os demais.
Já as pessoas perfeitinhas, nunca vi, nunca ouvi falar, a não ser pelos textos de auto-definição, tão fakes quanto elas mesmas....

terça-feira, 22 de março de 2011

Definição

“...Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui, que não passa de ilusão...”


Ficar,
Quando todos partem.
Silenciar,
Quando todos gritam
Deitar,
Quando todos se levantam
Dormir,
Quando  todos acordam
Entrar,
Quando todos saem
Remar contra a maré,
Ser careta num mundo moderno
 e condescendente
Ser estrangeira em seu próprio país.
É o que te torna chata, reclusa e estranha.
É o que faz de você exatamente aquilo que você é.
É o que te diferencia da multidão.
Melhor do que saber quem você é,
É ter a certeza de quem você não é.
Num mundo cheio de Marias e Maurícios,
Que bom poder ser eu mesma
E saber me definir.

quarta-feira, 9 de março de 2011

As linguagens do amor



                                                    As linguagens do amor

Uma vez alguém me disse algo sobre as linguagens do amor.
Eu, como tenho péssima memória, não me lembro  quais eram elas.
Mas fiquei a divagar sobre o tema, pensei em como é difícil para determinadas pessoas
Conseguir expressar seus sentimentos, se abrir, se jogar, se entregar.
O que faz com que algumas pessoas não sejam capazes de demonstrar o amor que sentem?
O que faz com que algumas pessoas não sejam capazes de perceber o amor demonstrado?
É que cada um tem sua própria maneira de interpretar o amor, de ser regado e alimentado por ele.
Uns precisam das palavras. Precisam ouvir milhares de “eu te amo”, “você é  muito valiosa pra mim”...
Outros , necessitam  do toque. Dos dedos entrelaçados,  dormir de conchinha, da mão no ombro, do toque na face, do cafuné...
Há quem precise de presentes, não os caros, mas principalmente os simbólicos: uma flor numa quarta feira qualquer, de convites pro motel ou pro cinema, de um anel com suas iniciais, de Häagen Dazs  de palito...
Outros, da atenção e   proteção .Todos necessitam do conforto da proteção. Acredito que os homens se sintam protegidos quando encontram uma mulher que valha a pena  e  que possam confiar  .
As mulheres, embora hoje independentes,  continuam sendo essencialmente mulheres,  portanto, precisam do braço forte, da hombridade,  do abrigo emocional.
Quantas vezes em nossas vidas, já ouvimos a velha frase:
-Mas eu te amo, só você não vê isso!
Na verdade, acredito que não exista uma linguagem universal para o amor. Cada um de nós tem seu próprio dialeto, suas próprias interpretações.
Não adianta falar  alemão para quem só conhece o hebraico.
E todos sabemos como é difícil aprender  uma segunda língua, mas sejamos sinceros:
Não vale a pena?
Olhe para o seu lado, veja o que você tem, olhe dentro de seus olhos, sinta o cheiro de sua pele, perceba como é bom tocar em quem você ama e diga, se não vale a pena se reinventar um pouco a cada dia, dedicar-se para aprender essa metalinguagem ,que não te fará feliz em Roma, Paris ou Tóquio, mas que te dará um norte, um porto seguro onde você possa  finalmente compreender e ser compreendido nessa nossa imensa  Torre de Babel.
Eu acho que vale a pena.
E você?

terça-feira, 1 de março de 2011




Monaretinha 1975

Era uma monaretinha modelo 1975, roxa metálica, dobrável, de selim lilás e no guidão tinha umas fitinhas coloridas penduradas que voavam muito, conforme a velocidade atingida.Muito mais linda que essa da foto.
Era uma menininha magricela, levada da breca, mas inteligente o suficiente  para lembrar-se de seu pai, que embora nunca tivesse dado  sequer um tapinha em sua bunda ,  quando bravo, tinha o olhar mais gélido e cortante da face da terra .Simplesmente olhava para ela e isso valia mais que mil palmadas. Por conta disso, procurava sabiamente evitar determinadas traquinagens.
Se aborrecia muito por ser a menor da turma, sua bicicleta ainda ter rodinhas e não poder sob nenhuma hipótese, pedalar na rua. Só era permitido a calçada , e poder dar a volta no quarteirão, representava seu mais completo estado de liberdade.
Sentia uma inveja enorme das mulheres maduras, que andavam em bicicletas sem rodinhas, podiam ir até à pracinha da gruta , tinham mil segredinhos e pasmem: usavam até sutian.
Um dia, ela resolveu exercer sua condição de independência, e aventurou-se a dar voltas no quarteirão.
So-zi-nha.
Era mesmo uma aventura.  Na esquina de sua casa, tinha a lojinha dos  Sabbag e  a matriarca  da família ,que morava ao lado da loja (ou seria a loja ao lado da casa?)   sempre que se passava por lá,  ela levantava sua mao, para ser beijada e depois a colocava sob sua a testa . Em seguida, convidava para entrar, mas antes tinha que se deixar os sapatos do lado de fora da porta.   Oferecia um tal de Kebab ou esfihas, que se recusadas, ela esbravejava e dizia sempre a mesma frase :  “Um burro não aprecia uma compota de frutas” A menina nunca foi capaz de entender o que aquilo significava, mas sorria gentilmente em retribuição .Falava estranho, talvez fosse africana, ou polonesa. Talvez torcesse pro Bragantino, vai saber o que a fazia ter aquele estranho sotaque....
Na esquina de cima, tinha um prédio alto, cuja lembrança estende-se somente ao prédio, nada mais.  E na esquina lateral, finalmente, o Hotel Zaíra. Um casarão antigo,  tenebroso para a menininha magricela.  E gigantesco. O Hotel devia ter pra mais de 10 quartos! E seus pais diziam para ela manter-se longe de lá, pois vai saber que tipo de pessoa pode  hospedar-se ali, e quem são e de onde vêm ninguém nunca sabe. “Pode ser  vendedor de enciclopédia Barsa, pode ser assassino de criancinhas!”
Nem era preciso ter dito nada. Ela tinha pânico das irmãs Zaíra. Eram miúdas, magras e franzinas.  Seus cabelos eram completamente brancos e tinham as três o mesmo corte, e usavam os mesmos vestidos, no carnaval, no natal e na sexta feira santa. Pareciam mesmo viver numa eterna quaresma. E jamais se dirigiam a ela e nem a ninguém que ela tivesse notado. Eram estranhas e misteriosas.
Alguns diziam que eram mudas, não sabiam falar. Só escrever e fazer contas.
Aquela tarde, ela queria  mesmo era ver as fitinhas coloridas do guidão voarem muito e engatou uma quinta  na monaretinha 75 e saiu a todo vapor, alegre pelo fato de ainda não existirem radares fotográficos.
Passou pela porta do hotel, não sem antes  passar os olhos pelo imenso corredor escuro.  Virou a esquina rumo à descida que a levaria finalmente até a sua rua.
Aí está o momento que a alegria sai de cena pra dar espaço ao desmantelo. Atropelou a velha Zaíra.  Menina pra um lado, velha pro outro, um talo enorme na canelinha da  pobre senhora e o que é pior de tudo nesse mundo: a bicicletinha torcida ao meio. Ah, isso sim  era o fim!
Olhou para a velha ,frágil , imovel e ensanguentada.  Olhou para a bicicletinha, e não teve dúvidas: Correu para ver se dava pra desentortar a bicicleta. Percebeu que não havia quebrado e sim, dobrado. Era só afrouxar a rosca, que ela endireitava novamente e tudo estaria perfeito. Acabou-se o problema! O ar de pânico desapareceu instantaneamente e o sorriso largo voltou a estampar-lhe o rosto.
Olhou novamente pro lado e viu  o chão, a velha e o sangue.  Sentiu o medo paralizar-lhe os músculos. Ainda se fosse uma velhinha amável, mas era a dona do Hotel e ela morria de medo da velha. Ela não emitia nem um só ruído e imaginou que estivesse morta.
“Matei a velha do hotel.”
Fugiu, sem pensar duas vezes.
Chegou suada e enfiou-se embaixo das cobertas. A mãe logo estranhou, e foi medir-lhe a temperatura.
“Deve ser garganta. A essa hora da tarde, esse calor , e você suando embaixo das cobertas, só pode ser garganta. Vamos chamar o Dr Amélio..”
Ouviram palmas na porta da casa. A mãe foi atender, só voltou uma hora depois e nesses sessenta minutos, a menina lá ficou, imóvel embaixo das cobertas.  Ao regressar, a mãe não disse uma única palavra. E nem a menina perguntava nada.
No final da tarde, ela ouviu o barulho mais aterrorizante que poderia ter ouvido: o ruído do motor do carro de seu pai, estacionando na garagem. Era o fim, era o fim.
Conversaram em segredo, como todas as pessoas velhas tinham o hábito de fazer, e em seguida ele entrou no quarto com aqueles olhos sérios de pai bravo. Ela apertava os olhinhos, não queria ver, apertava os ouvidos, não queria ouvir, apertava o nariz, não queria respirar.
Ele , ao perceber a agonia da pequena, disse apenas: “Nunca mais faça isso”.
Ela olhou e respondeu: “Tudo bem, eu juro que nunca mais  corro de bicicleta!”
“Nunca mais deixe de prestar socorro a alguém. Sei que você ficou assustada, mas deveria ter chamado um adulto imediatamente para prestar ajuda a senhora.”
“Pai, eu juro que não vou matar mais ninguem em toda minha vida, eu juro!”
Ele conteve o riso e procurou seguir com seu olhar sério e cortante feito gelo.
“ Ela não morreu. Sua mãe a levou  ao hospital, ela teve que dar pontos e a levaremos todos os dias para fazer curativos até que ela sare. Por enquanto é bom você não passar por aqueles lados.”
Foi nessa época que ela descobriu que nem a Mulher Maravilha, nem a Mulher Biônica tinham bicicletinhas e mesmo assim, eram suas heroínas número um. Descobriu também que aos 5 anos, não é preciso andar de bicicleta sem rodinhas,  nem usar sutian ou ter segredinhos com as amigas, mas é preciso sim, ser responsável  pelos seus atos. E talvez ,aposentar a monaretinha roxa e ficar em casa pelos próximos 20 anos, seria um ato de muita inteligência e responsabilidade...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011



Presentinho

Semana passada fui presenteada com o desenho acima, e um poema que foi escrito no verso do desenho.
Tentei me conter, botar em prática a minha infinita modéstia , que aliás é uma de minhas mais admiráveis qualidades, relutei, relutei muito, mas foi mais forte que eu; de modo que segue abaixo , texto original, sem correções ortográficas .
Existem presentes, que nao tem preço, e vem embrulhados em papel que cheira morango ainda no chão, tem sabor de sapotí e faz com que a vida valha a pena.



Para a minha flor

Espero que fique contente
Pois com amor eu lhe fasso
Uma flor fluorescente
Para te dar de presente.
Uso o trasso
Do compasso
Cor de lápis diferente
Pra mostrar como é amada
Mas isso não é nada
Juro pela mae de Deus sagrada:
Serei competente e esforçada
Ou seja: muito diferente
Pra fazer voce feliz plenamente!
Agora finalmente
Pesso um beijo caprichado
Agradesso por me ter no mundo colocado
Pra ser parte da sua familha
E eu poder ser sua filha.



Autora: Lívia Trevejo Della Coletta

(texto publicado sem a autorização da autora)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Do chão não passa





-Mãe, eu tive um sonho estranho...
-Sim.
-Não vai perguntar o que eu sonhei?
-Desculpa, filha, o que você sonhou?
-Sonhei que minha barriga era bem gorda até uma parte, depois afundava e aparecia os ossos, de tão magra que a minha barriga era.
-Como assim? Metade gorda e metade magra?
-É, era uma barriga dividida em duas partes: uma gorda e outra magra.
Fiquei pensando e logo ela veio com a pergunta:
-O que você acha que isso significa?
-Ah, não sei. Talvez uma parte de você queira comer muita guloseima, e a outra parte queira emagrecer para ficar melhor nas suas roupas , né?
-É, pode ser. Mas hoje eu ainda vou tomar sorvete, pois as férias não acabaram.
-Ok.
-E você, mãe?
-Eu não quero sorvete.
-Não, mãe! O que você sonhou?
Pensei por breves instantes e me veio à memória meu sonho de hoje.
-Sonhei que tinha fraturado um osso da canela. Não doía, mas eu sentia a agonia de ter que resolver a questão, sem saber o modo correto de fazê-lo. Aí abri o corte com minhas mãos, via carne, fibras e uma quantidade de gordura, e como não havia outro jeito, retirei o pedaço do osso quebrado, de modo que não saberia se teria ainda estrutura suficiente para parar em pé.
-Nooooooossa, acho que vou desmaiar!
-Ah, você perguntou o que sonhei, só estava te contando, oras...
-Tá, continua que eu quero saber o final do sonho.
-Não tem final. Sonhos não são como filmes ou historias de livros.
-Mas o que aconteceu depois? Você conseguiu andar ou não?
-Consegui, mas com aquela sensação horrível de insegurança, achando que a qualquer momento, a qualquer escorregão, a qualquer trepidação, eu pudesse ir ao chão.
-Poxa....
-Mas agora é sua vez de me dizer o que acha que meu sonho significa.
Na lata, ela respondeu:
-Acho que você se machucou demais, e teve que se curar sozinha. Você arrancou aquilo que estava te incomodando, fez o que acreditou que tinha que ser feito, mas não está segura de que fez certo, por isso sentiu esse medo de não conseguir se equilibrar.
-Ei, me diga uma coisa, mas não minta pra sua mãe: Você é mesmo uma menininha de 11 anos?
-Ah, claro que não, né, mãe! Mês que vem eu já faço 12. Vai ter festa , piscina e muito brigadeiro? Quero esquecer aquela parte do sonho que a minha barriga é magra.Deixa ela como ela é. E você devia fazer o mesmo e aceitar as coisas como elas são.Pode dançar, pode pular! Suas pernas agüentam sim!!!
E se você cair, mãe, do chão não passa!

sábado, 22 de janeiro de 2011






Paraísos Artificiais



Ele pousou a caneta sobre a ficha e a olhou atentamente por cima do óculos, como se algo não encaixasse.

- Como assim?

- É assim, vontade de não estar por aqui.

- O que te faz sentir vontade de não estar por aqui?

Ela olhou para ele, tentou sorver o que seus olhos lhe mostravam. Seria ele alguém que fez todas as escolhas certas ,ergueu seu pequeno império fazendo aquilo que gosta, constituiu família, teria ele belos filhos e uma mulher que o ama , fariam amor todos os dias? Seria mesmo capaz de compreender o que ela tinha a dizer?

Saberia ele de fato entender o que faz com que alguém não se sinta no lugar certo?

Sobre a mesa havia uma base que iluminava uma pequena bola de cristal que mudava de cor conforme o led se alterava.

- Às vezes me sinto bem. A alegria é coisa minha, da minha alma.. Mas a maior parte do tempo, penso que não me encaixo, que não há lugar pra mim por aqui.

- E onde é que você acha que é seu lugar?

Ela pegou a bola em suas mãos e o brilho da base do led desapareceu e aquela que era uma bola multicolorida, de repente se tornou uma simples e grande bola de gude.

- Acho que é isso, disse ela, olhando fixamente para a esfera.

- Sim?

- Acho que para a maioria das pessoas, a vida deve ser tão sem graça, que colocam luzes, pós e doces mágicos e leds coloridos para que sejam capazes de fugir da mediocridade existencial a qual estão condenadas. Para essas pessoas, a felicidade consiste em sair de dentro de si mesmos .Me entristece saber que para tais pessoas, viver seja quase uma dor, ou mais , muito mais que isso.

Fez-se um longo silêncio. Agora era ele que tentava sorver tudo aquilo, que saiu junto com as lágrimas, que caem por nao ser mais possível contê-las.

- Você acha que as pessoas se enganam para poderem ser felizes?

- Acho.

- E você, o que você pensa a respeito disso?

- Não penso nada.

- Não pensa nada, não tem opinião sobre isso?

- Na verdade de certo modo, eu sou como elas: a vida para mim tem sido pesada, ja que me afeto com tudo, sobretudo pela falta de afeto. Só nao me utilizo de subterfúgios, o que faz com que para mim, tudo se torne mais difícil.

- O que mais você sente?

- Eu sinto pena, pena da solidão que deve haver ali, pena de quem não é capaz de ver a beleza nas coisas simples, no por do sol, nas estrelas, no cheiro da flor ou na terra molhada pela chuva, no frescor das manhãs de outono, no afeto dado de livre e espontânea vontade, na necessidade de dar e receber carinho, de tocar e ser tocado...mas tudo isso é poesia, coisa de gente doida e fora dos eixos como eu, né, doutor?

- Hum....

Ela o olhou querendo acreditar que aquele homem teria a solução para os males que afligiam sua alma.

- Prozac, Daforin, ou simplesmente Fluoxetina. Vinte miligramas pela manhã. E este outro é pra você poder dormir.

Lhe entregou um bombom e pediu que voltasse em vinte dias.

Ela saiu pela porta, com o receituário nas mãos e no coração a certeza de que de fato, era a parte inversa da tal inversão de valores. Estava doente, e sabia disso, ao contrário do que faz qualquer neurótico, que nega-se a assumir sua doença.

Como não pôde ser capaz de combater o mundo colorido artificialmente,simplesmente juntou-se à ele...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010


SURREAL

“ Sentados na arquibancada da arena de esportes
Esperando o show começar.
Luzes vermelhas, luzes verdes, vinho de morango,
Com bons amigos, seguindo as estrelas, Venus e Marte,
Está tudo bem nessa noite...”
Ao som de Vênus and Mars, ele entrou.
Voltei no tempo, quando eu olhava para aquele LP em branco e preto, e dizia:
-Mãe, eu quero me casar com Paul Mc Cartney...
De fato, a noite estava perfeita , Vênus e Marte e a Lua assistiram ao maior show do mundo.
Estado de graça. Eu olhava e via meus amigos de boca aberta, feito crianças, crianças que cresceram vendo os pais ouvindo Beatles .
E lá estávamos nós, representantes de nossos velhos pais, realizando um sonho nosso e deles também.
A gente olhava e dizia:
“-Ele é de verdade, ele realmente existe, e a gente tá aqui!”
Eu olhava um pouco além, e podia ver pais com seus filhos e esses filhos com seus filhos , todos com o olhar numa mesma direção e os ouvidos em total êxtase.
Meu desejo era só um: que todos os meus amigos estivessem ali ao nosso lado naquela hora, e meu pensamento se voltou para cada um deles.
Outras pessoas pensavam o mesmo que eu, pois podia-se ver o tempo todo, ligações de celulares com vozes dizendo assim:
-“Mãe, eu to vendo ele, mãe!”
-“Ô, meu pai, eu to aqui vendo o Paul mc Cartney!!!”
Cada um de nós tinha uma música que nos faz lembrar de algo. A minha, era Let It Be, pois me lembro da minha avó e da paz de suas palavras sábias e de como ela dizia calmamente que pra tudo dá-se um jeito.
Todo casal tem uma música, e a nossa eleita é Something.
Ficamos 2 dias reunidos esperando o domingo chegar e durante esses dois dias, todas as músicas dos Beatles foram cantadas, mas o jingle que se cantava de 5 em 5 minutos, era : “I dont know, I, dont know....” e quando Something começou, foi de fato, surreal : Fotos de George Harrison passavam no telão no fundo do palco e Sir Paul virou-se de frente para ele, homenageando o compositor da terceira música mais tocada em todo o mundo.
Palmas de mais de sessenta mil pessoas tem uma acústica maravilhosa e eu não sabia.
Fogos de artifício celebraram a nossa felicidade e um numero absurdo de bexigas brancas surgiu do meio daquela energia toda, e crescia feito pipoca e em poucos minutos estavam espalhadas pelo Morumbi inteiro. Uma delas veio parar na minha mão e naquele momento , eu me senti totalmente integrada àquela massa de energia boa.
Todos os olhares, todos os ouvidos e todos os corações unidos numa mesma direção, realizando seu sonho de menino.
“ Eu escrevi essa musica para a minha gatinha Linda, mas hoje ela é para todos os namorados” , e cantou My Love.
A paz que se viu por ali era tão absurda, que sentíamos o peito apertar de tanta emoção. Muitas vezes, não falávamos nada, para evitarmos chorar, pois tudo era intenso demais.
Foi mágico.
Naquele momento, o mundo era só sorrisos, e não havia problemas, doenças , nem mágoas ou diferenças a serem acertadas. Estava tudo perfeito naquela noite onde o universo todo conspirou a favor da felicidade.
Num mundo cheio de guerra, fome, ganânica, injustiça, inveja e intolerância, o show do Paul Mc Cartney veio nos mostrar que o mundo só não consegue a paz, porque não quer.
(Meus agradecimentos à Elaine,Dirça, Thi e André, que estiveram ao meu lado, dividiram e eternizaram comigo esses 165 minutos mágicos. Vai ficar pra sempre no meu coração. )

quarta-feira, 17 de novembro de 2010



A SAUDADE DELES TÁ DOENDO EM MIM

Não adianta.
Nessa época do ano, a saudade toma conta de tudo.
Perdoem, é uma fase, vai passar, sempre acaba passando.
O fato é que quanto mais vivemos, mais perdas vamos colecionando.
Até pouco tempo eu era orgulhosa em dizer a todos os meus amigos que tinha meus avós maternos e paternos ainda vivos e muito saudáveis.
Eu tinha uma família linda!
Por conta de minha mãe ter mais irmãs que meu pai,e morarmos no inteiror, a casa da vovó era sempre mais cheia.
Mas a casa de meus avós paternos também me encantava. O cheiro da casa, a escada que levava até o quintal, as novidades da capital em épocas que ainda não havia a globalização...
A primeira vez que vi um microondas funcionando, foi lá. As maiores TVs, as novidades cibernéticas, o charme dos cabelos grisalhos e bem cuidados de minha avó, a fineza e o charme de meu avô. A casa tinha cara de férias pra mim. De lá, sempre íamos pra praia, playcenter, shopping centeres...
Primeiro foi meu avô, depois minha avó. Por ultimo, meu pai.
VÔ Henrique era tão lindo, tão elegante e inteligente... Ele sempre vinha me ver, não importando as adversidades. Calmo e paciente, ah, como eu amava vê-los chegar!
Vó Nadir com seus lindos cabelos brancos e seu cheiro de perfume de avó. Lembro-me dela comendo suas frutinhas frescas, assistindo TV ao lado do vô. Sua pia era sempre tão branquinha, a casa tão limpa e vê-los sentados naquele sofá da sala me trazia felicidade.
A casa do interior, a mais movimentada, era habitada por filhas, genros, netos, vizinhos , agregados e quem mais quisesse chegar.
O cheiro do feijão, do pão, do café fresco, do peixe frito e do fumo de corda eram uma constante. A casa não tinha trancas nas portas e se tinha, nunca era usada.
Por lá, se a alegria era maior, as perdas foram maiores também.
Meu tio Gallo era um homem bonito, recém casado, recém pai do Alê. De olhos verdes, pouco mais de 27 anos quando se foi, deixando uma linda e jovem viúva e seu filhinho pra trás. Na foto ele aparece abraçado com ela, num domingo qualquer de carnaval, pouco antes de ir embora. As fotos do jovem com seu filhobebê também é ele, e o Alê.
O Alê foi crescendo, e se tornou uma pessoa extremamente popular e querida de todos. Era o cara que qualquer um olha e diz: poxa, como esse cara é feliz! Esse tem sorte na vida! Vai longe! Não conseguiu chegar a cidade onde ia com os amigos apresentar-se num festival de musica. Elegi aquela como a pior noite de toda a minha vida e noites difíceis se sucederam , e ela continua sendo a pior de todas.
Depois foi a vez do nosso agregado mais amado: Waldir Gatto, o Gattão. Na foto pode-se ver o Alexandre com olhos cansados, ainda pequeno em seus braços. Era o tipo de um pai postiço. Pro Alê e pra todos nós. Um belo gajo,solteirão convicto, topete grisalho, sempre presente em todos os momentos da nossa vida. Lembro que ele nos enfiava dentro de uma carrocinha dessas de pedreiro, e saíamos passeando pela cidade.
Ninguem tinha medo de trânsito, nem de ladrão e todos confiavam-se mutuamente. Dele, ganhávamos muitos presentes. Era a época da inocência e não nos dávamos conta disso.
O vovô , não posso falar dele. Só digo que foi o homem que mais amei e foi através dele que criei minhas referência masculinas e talvez seja por isso que me tornei tão exigente.É ele deitado em seu sofá, abraçado a mim e a mochilinha. É ele ao lado da vovó, é ele vestido de cangaceiro, é ele com a mochilinha ainda bebê nos braços. Viveu até os 103 anos e pra mim, foi pouco demais. Quando ele se foi, minha vida virou uma saudade que não tem fim, não dá trégua, nem arrego.
Meu pai foi a mais recente perda. Na foto, sentado ao lado do vovô, foi num dia em que ele veio de Recife pra São Paulo e sabendo do estado de saúde duvidoso do véio Américo, veio visita-lo, o que trouxe uma enorme alegria a todos. É ele também abraçado a mim na varanda do seu apartamento em Recife, é ele sentado no chão , observando a mochilinha brincar, pular, pular e de repente cair em sono profundo lá mesmo, no chão da cozinha.
Essas pessoas foram as mais importantes na história da minha existência. Uns foram embora cedo demais, outros nem tanto e outros aproveitaram até o ultimo momento da viagem.
A casa da minha existência sempre será incompleta sem a presença deles . Existe um vazio no tapete da sala de estar, , no quintal, na cozinha, na calçada da minha vida.O lugar de cada um ficou vago na mesa . Outras pessoas vieram e ainda virão, mas a ausência deles será sempre presente, e naquela mesa, sempre estará faltando ele, e a saudade dele, vai doer sempre em mim.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A meu pai adotivo                                     



Francisco Itaerço é um poeta de um nível intelectual admirável.
De uma genialidade e sensibilidade imensuráveis.
É também, desde pouco tempo atrás, meu painho de coração.
Sim, a meu pedido, ele me adotou como filha de coração.
Ele me homenageou, citando essa princesa sem castelo entre nomes tão importantes.
Retribuo sua homenagem, se é que isso é possível,
Postando seu poema aqui no meu blog.
A bênção , Painho!





QUEM FUI? QUEM SOU? QUEM SEREI? -UM POEMA DE FRANCISCO ITAERÇO


“A coisa mais difícil é conhecer-se a si mesmo” (Tales de Mileto)

Meio século de existência,
Não sou nada, não existo
Sou pura ineficiência
Sou somente meu registro.

Fui fabricado em série
Em escolas e universidades
Fui sempre uma minissérie
Das novelas de verdade.

Sou meu pai e minha mãe,
Meus filhos e meus amores,
Meus amigos e meus alunos
Sou também meus professores.

Fui Ghandi, fui Joana Darc,
Jaques Demo Lay, O Templário
Fui imperador romano
Só não fui incendiário.

Fui Nelson e fui Gonçalves,
Fui muitos outros também,
Sou Roberto e sou Carlos,
Caetano e Fafá de Belém.

Fui Tiradentes, e Zumbi…
Fui preso em sessenta e quatro
Só não fui executado
Porque fugi para o mato.

Aqui no Jota Bê Efe:
Sou toda esta fubanada,
De tudo eu sou um pouco
Eu sou um pouco de nada

Sou o Cícero Cavalcanti,
Sou Luciane Trevejo,
Sou o amanhã e o ontem
Sou o amor e o desejo,

Sou o professor Luiz Otávio
Num AP de frente ao Mar,
Escrevendo textos pra neta
Do décimo segundo andar.

Serei ainda, quem sabe?
Xico Bizerra e Hellen Quirino,
E o colunista João Procópio
Que sou fã desde menino.

“De jumento ao Parlamento”
Serei Raimundo Floriano,
Serei Laélio Ferreira
O mundo todo glosando

Sou Leonardo Leão
Sou Goiano Braga Horta
Pouco importa a oposição
Divergências pouco importa

Sou Marco Di Aurélio,
Sou o Padre Irineu Batista:
Um fiel aqui da ICAS
Que a muito perdi de vista

Sou o Huytamar de Freitas
Lá da Rádio-Peão
Sou o bispo Jorge Filó
E o Ismael Gaião

Serei todos esses letrados,
Até mesmo o papa Berto
E pra quem não foi citado
Deixo meus versos em aberto.

………………………………………..

No momento sou o que sou
Meio nascente, meio poente…
Vou consultar meu DNA
Acho que nem sou meu parente.

Mesmo quando pleno de mim
Sou um poeta simplesmente
E poeta todos nós somos
Difícil mesmo é ser gente.

Quem sou eu? Você sabe? Eu não sei.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Eu sinto que tenho deixado o blog um pouco de lado (talvez muito), mas confesso que minha coluna no jornal tem me fascinado e me envolvido tanto, que acabo postando lá e deixando de postar aqui.
Coisas do coração, que a razão nao pode explicar.
A verdade é que tenho uma reciprocidade muito grande por lá, sou muito paparicada e como uma boa leonina, isso me alimenta.
Além do que, lá só tem fera: grandes e consagrados escritores, cartunistas e jornalistas, portanto ninguém necessita me plagiar, ja que são , de fato, bem melhores que eu.
Estou postanto um video e um texto aqui, que postei no jornal já tem alguns dias.
Foi um artigo muito comentado. Aqui eu sei que o perfil é outro: a galera entra, lê, mas quase não comenta.E comentários nos fazem um bem danado e quem escreve sabe disso.
Mas meu ego tem sido massageado diariamente por lá, entao, posto pela emoção de postar mesmo, sem esperar nada por isso. Se o texto e as imagens fizerem com que uma única pessoa dê um pouco de si pelo seu próximo nesse final de ano, uma bola, uma boneca, um abraço , ouvidos a um velhinho, já terá valido a pena.
Não careço de comentários não, ok?
Mas leiam..... e deixem-se invadir pelo espírito solidário.





FILANTROPIA

Eu nunca consegui entender o que impede o ser humano de ajudar o seu próximo.
Por mais ruim e briguenta e presepenta que eu seja , e eu sou,
Sempre tentei fazer minha parte e isso só me trouxe contentamento.
Esses dias uma amiga querida viu esse vídeo acima e me lembrou de uma campanha, que nem era minha e sim, do Banco do Brasil da cidade onde eu morava, para arrecadar alimentos para uma creche que estava quase fechando por falta de recursos.
O Banco encabeçou a campanha, publicou no jornal e no rádio. Uma beleza. Mas botar a mão na massa que é bom, nada. Acho que eles imaginavam que o povo ia entrar na agência com arroz, feijão, sabonete, shampoo, leite, óleo....
Eu sei que o negócio não andava.
Um dia consegui 3 amigas pra me ajudar, já que as demais precisavam ir ao clube, afinal era verão e precisavam se refrescar.
Fomos pra porta do maior supermercado da cidade, sábado, às 8 da manhã, com a cara, coragem, tesoura e um rolo de 500 metros de fita de cetim em punho.
Cada pessoa que entrava, a gente colocava um lacinho no dedo indicador, que era pra não se esquecer de pegar alguma coisa para doar pra gente na saída.
Não sei de onde tirei essa idéia, mas acredito que Deus ilumina , né.
Eu só sei dizer que foi a coisa mais linda do mundo, aquele supermercado lotado, e todo mundo com um lacinho no dedo. Todos se entreolhavam e ninguém deixou de doar. Tivemos que lotar meu carro umas 10 vezes, pois a quantidade de alimento atrapalhava a entrada do local.
Na segunda feira, quando liguei para o gerente do banco vir até minha casa buscar as doações que tínhamos conseguido, ele não imaginava a quantidade. A caminhonete dele foi e voltou e foi e voltou e foi e voltou, para levar tudo o que tinha na garagem de casa.
E o que foi que eu tive que fazer? O que foi que eu tive que gastar? Um sábado. Nada além disso.
O que eu doei de mim? Muito pouco. Quase nada.
Então fico pensando .....O que impede o ser humano de ser bacana, de ser solidário ao seu próximo? Falta de tempo? Não. A gente arruma tempo pra tudo o que estiver disposto a fazer.
Falta de comprometimento? Falta de conscientização?
Penso que o que falta pra gente é amor, sabe..
Amor, de olhar pro outro e saber que somos todos farinha do mesmo saco e que no final da caminhada, iremos todos pro mesmo lugar.
Amor, de ver alguém caído e ter o ímpeto de estender a mão ao invés de pensar: não é problema meu.
É amor o que falta. É preocupação.
É olhar e entender que somos todos cores da mesma paleta, que somos átomos de um mesmo sistema, que somos filhos de um mesmo Deus e que isso nos torna irmãos.
E como essa amiga me fez lembrar da história do lacinho, que foi apenas uma, entre tantas que temos pra contar,
Deixo esse texto em homenagem a elas, que naquele dia em especial, dedicaram seu sábado para ajudar seu próximo. E assim o fizeram.
Meu beijo cheio de carinho e saudade pra Karina Martins, Silvana Costa e Bruninha Gallo.
Deus abençoe vocês.

terça-feira, 19 de outubro de 2010








Quién me va a entregar sus emociones?
Quién me va a pedir que nunca le abandone?
Quién me tapará esta noche si hace frío?
Quién me va a curar el corazón partío?
Quién llenará de primaveras este enero,
Y bajará la luna para que juguemos?
Dime, si tú te vas, dime cariño mío,
Quién me va a curar el corazón partío?

domingo, 17 de outubro de 2010

(Meus agradecimentos ao meu Xuxú, que colaborou com a construção do texto, além de ser a minha melhor inspiração e o protagonista das maiores cagadas que tenho conhecimento).





CURTO E GROSSO QUE NEM UM TRÔÇO

Cansou de ser pobre e pairar no anonimato, sendo proprietário de tamanho talento e imaginação.
Foi à feira, comprou arroz, feijão de corda, milho, cenoura, beterraba, variações de folhas em várias tonalidades de verde,carne vermelha e branca.
Cozinhou toda aquela paleta de cores, ingeriu os alimentos, acompanhado com cerveja, vinho tinto e branco, pinga, coca cola e fanta, gatorade sabor uva e água de côco.
Passou no Mc Donalds mandou pra baixo um Milk shake de morango e finalizou com uma casquinha twist.
Pegou uma tela, colocou-a estrategicamente no chão de  seu pequeno quintal, pediu emprestada a varanda do vizinho do andar de cima.
Abaixou as calças e “obrou” em cima da tela.
Envernizou-a , levou a Bienal e discursou sobre o tema de seu trabalho: “Arte Fecal” e sua
obra “ Depois da Balada Contemporânea ” e sua importância na representaçao da sociedade .
Foi ovacionado , aplaudido, reverenciado.
Ficou rico, saiu na Caras, Bundas, no New York Times , foi entrevistado pela Oprah, esnobou o Jô e a Gabi e o mundo se rendeu ao cara que ganhou a vida fazendo cagada.
E nem político ele era.

terça-feira, 12 de outubro de 2010




TROPA DE ELITE 2

Domingo  , 20:00 horas. Dia de pizza, cinema, pipoca.
Fomos ao shopping pra assistir Tropa de Elite 2.
A fila estava tão grande, que pensei em desistir.
Mas somos brasileiros. Enfrentamos a fila para sermos informados que os ingressos para todas as sessões daquela noite estavam esgotados. Compramos para o dia seguinte. Brasileiro é brasileiro, meu chapa...
Dia seguinte, 15:00 horas.Véspera de feriado. Aquilo parecia um formigueiro. Quarenta minutos antes do filme começar, a fila para a entrada  estava imensa.Fiquei feliz por termos comprado os ingressos antecipadamente, senão,  teríamos que adiar novamente, pois todos os ingressos para aquele dia também se esgotaram.
Enquanto aguardávamos na fila, comecei a observar aquelas pessoas.
Eram jovens, adultos, jovens senhores, velhas senhoras, crianças, mas muuuuuitas crianças.
Embora o filme não mostre cenas de sexo, mostra violência, pensei. E achei talvez um pouco inapropriado  para crianças tão novas, mas o que me  intrigava  era  o que movia aquelas pessoas a estarem ali. Tanta gente tão empenhada para ver a continuação de Tropa de Elite.
Me lembrei da época do primeiro filme, e da comoção geral que ele causou:  Todo mundo, sobretudo as crianças, cantando como se fosse um hino : “tropa de elite , osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você!”
Eu observava aqueles rostos desconhecidos,  rostos entusiasmados para ver o filme e embora eu soubesse o quanto o primeiro foi bom, não conseguia entender tanta disposição e interesse ....
Entramos.
Tropa de Elite 2 enfim começou e caiu por terra minha teoria de que filmes em sequência não superam o original.  O filme é  pacabá.
É apresentado, com entusiasmo,  relação pai e filho na sociedade contemporânea, tópicos como confronto entre classes, consumo de drogas que não se estende só às classes baixas,  íntima relação entre policia e marginalidade, entre o morro e o planalto,   sociedade e poder público.
Filme violentíssimo. Como violenta é a nossa realidade.
Claro que  a cena eleita como a melhor, foi a da surra que o Capitão Nascimento dá num deputado. Podia se ver através da expressão das pessoas naquele momento, que todos sentiram-se representados. Todos deram seu murro imaginário e todos sentiram aquela vontade de ser um Capitão Nascimento.
Não vou me derramar em elogios a Wagner Moura. Não vou. Tenho auto-controle e  vou me abster.
O filme termina e a gente sai do cinema de alma lavada, com aquela sensação ilusória de alívio momentâneo. De que as coisas ainda tem solução.
Já dentro do carro,  eu chorei. Assim, como choram as princesas, discretamente, sem ser notada.
Chorei porque concluí a razão de toda aquela comoção, lutar por uma vaga num shopping num feriado prolongado, passar horas na fila para assistir a um filme:
A gente é carente do pão,  da educação, da segurança, a gente é carente da tal da esperança.
A gente é sobretudo, carente de heróis.
Capitão Nascimento é nosso Super Homem, alguém que nos emociona pela honestidade, pela hombridade. Nossas crianças precisam de ossos duros  e caráter reto.
O futuro desse país está nessas crianças e elas estão sedentas de dignidade, elas tem esperança sim, num futuro melhor, com comida, saúde e educação garantidas e acima de tudo,  as nossas crianças estão sedentas e clamam por bons exemplos.
E , se ainda não somos capazes de escolher corretamente nossos governantes, ao menos sejamos capazes de sermos bons pais e de darmos bons exemplos. Pois, embora não percebamos, somos nós, os pais, os  primeiros grandes heróis eleitos por nossos filhos.
 Portanto,  sejamos dignos dessa admiração, mostremos a eles que se o mundo está cheio de vilões, os heróis ainda existem , vivem honestamente, não roubam, não matam e  embora não morem em Bat-cavernas, velam sempre pelo seu sono,   no quarto ao lado.

sábado, 2 de outubro de 2010

Sabedoria


Fazer aniversário perde um pouco a graça  quando deixamos de ter dentes de leite.
A ansiedade pelo tema da festa, o bolo, presentes, são trocados pelas ruguinhas que invariavelmente ganhamos de presente da vida.
Prova de que estamos vivos, de que estamos vivendo. Que o sol continua batendo em nosso rosto e que choramos e sorrimos. Sorrimos muito. Por isso os pés de galinha.
Eu sou feliz.
Tenho uma filha, que me permitiu rever-me, recriar-me .Nela vejo meus erros e me perdoo, porque a amo mais que a mim mesma.
Tenho um grande amor. Alguem que mais do que me amar, me diz isso o tempo todo, através de gestos e palavras e se dedica sempre em me fazer a mulher mais feliz do mundo. E eu o amo, e  quero te-lo sempre ao meu lado.
Eu revejo conceitos, reflito sobre meus erros, peço desculpas quando erro,
Até tenho aceitado o perdão, mesmo quando não  tenho nada a ser perdoado.
Aprendi que só as coisas  importantes pra mim devem ser revistas, reavaliadas e repensadas.
Hoje eu só brigo por quem amo. De resto, eu ignoro , fico brava por 3 minutos e depois sigo sorrindo.
Assumo tudo o que fiz ou faço.
Mas não pago pelo whisky que não bebi.
Finalmente entendi que o que as pessoas pensam  sobre mim, nunca será capaz de mudar aquilo que sou. Nem pra melhor, nem pra pior.
Na vida, nada é fácil, viver é complexo, porque nos cobramos demais, o tempo todo...
E a auto crítica nos impede de sermos leves, de voarmos.
Estamos sempre pensando que poderíamos ter feito melhor, ter sido melhor,  ter amado mais,
Ter perdoado mais, ter sido mais amigo, ter escutado mais e falado menos...
Mas o fato é que recentemente cheguei aos 40.
Reuni pessoas queridas pra dividir comigo aquele momento da minha  vida.
E tudo foi perfeito, porque não tinha ninguém faltando, ninguém sobrando.
E tive aquela rara sensação de que  naquele pequeno fragmento do espaço e do tempo,
Tudo estava no seu devido lugar, tudo estava como deveria estar.
Fiz um breve esboço da minha vida até aquele instante e gostei do quadro que se formou  a minha frente.
E penso que, para termos uma boa tela, temos que saber dosar as cores.
A vida que vai comigo quando eu não estiver mais por  aqui, é escrita com as tintas que eu escolho.
Não se pode apagar o que ficou borrado.
Mas se pode  recomeçar e fazer melhor. Sempre.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UMA ÍNDIA

Um texto de Cícero Cavalcante, como uma declaração de voto e de amor à honestidade simples e à inteligência disponível  .


Eu queria, juro que queria ver isso. O desmantelo. A limpeza desse pau de galinheiro cheio de merda e fedor de titica em que foi transformado os poderes executivo e legislativo do Brasil. Porque galinheiro que se preza é assim:  a merda é feita lá em cima, pelas cloacas sem penas de todos os rabos presos politiqueiros, mas cai aqui embaixo, inundando a raia miúda do resto da comilança desenfreada e da galinhagem sem limites desse Brasilzão podre.
Nessa minha ficção atordoada eu imagino que um povo inteiro tenha tomado vergonha na cara. E tenha se chamado aos brios, com uma vontade única e nunca vista por esta imensidão de Pátria.  hoje Pátria desalmada para as necessidades dos seus filhos. Hoje Pátria mal amada por um conluio de comandantes, já cegos pelo brilho ofuscante do poder.
Eu imagino esse mesmo povo fazendo dos seus votos, a arma pacífica da sua própria libertação. Caminhando quase que em ordem unida, marchando aos acordes do hino Nacional Brasileiro, em altos brados retumbantes dentro de suas próprias consciências.
Calados. Introvertidos. Concentrados como a infantaria nos fronts de guerra. Cada um com sua vingança prestes a ser consumada.
Como arma, a escolha, o sufrágio. Um punhal de lâmina fria e afiada a ser cravado no peito do gingantismo que se transformou a desobediência, a falsidade, a desonestidade e o desrespeito dos que afrontam a dignidade e esculhambam a probidade e a honra.
Tão poderosa arma, que fará desabar no chão - na desarticulação do tombo inesperado - os que se imaginam acima do bem e do mal, mas que de uma hora para outra, podem virar massa humana disforme, exalando seus apodrecimentos  nos cemitérios das inutilidades públicas, localizados nas próprios fossas onde passaram todas as suas vidas.
E surgirá uma índia, vinda das sombras da floresta amazônica. E a índia surgirá impávida como Bruce Lee. Um heroína do bem, que opta pela preservação e não pelo desabamento. Uma paladina da justiça que descerá numa estrela cadente, colorida e brilhante, e não de outra decadente e rubra de vergonha.
Uma lutadora de velocidade estonteante, que mesmo na rudeza de sua criação, trará honestidade , hoje mais necessária que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias.
E tomara que venha com a indignação própria dos humilhados. E levante sua bandeira bem alto e a partir dela comece o desmontar da indústria da roubalheira, hoje repleta de instrumentação precisa e de segredos guardados a sete chaves. E chafurde o merdeiro da Petrobrás. E levante a caixa preta dos mensalões. E exponha a público a vergonha dos gastos desenfreados que compram consciências e posturas, sob o título de implantação do socialismo que hoje desmoralizaria os lapidares que o  criaram.
E na pecha sem tamanho de ver tais safadezas expostas ao mundo, todos guardaríamos esses criminosos em prisões fétidas, afastados de uma sociedade que só quer paz, trabalho e justiça.
E aquilo que nesse momento se revelará ao povo, surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido óbvio.
E eu quero essa índia lá. Deus há de querer essa índia lá. E com ela um novo Brasil. Um Brasil que me orgulhe. Que me faça sentir filho e não um pária cuja honestidade lhe seja descabida. Um Brasil que me honre. Um Brasil que reconheça que acima da vontade de qualquer pessoa, existe o direito de todos, na ordem e no progresso. E nunca na desordem e no retrocesso.
Pelo menos sonhar ainda é possível.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010




PROCURA-SE

Ela é uma mulher bonita.
Bonita mesmo, de verdade.
Uma mulher bonita, uma amiga bonita, uma esposa bonita…
Uma mãe maravilhosa.
Mas não é da mulher que vou tratar nesse texto. Preciso voltar aí pra mais de 30 anos.
Ela   era uma menininha de pouco mais de 5 aninhos? Não tenho muita exatidão de datas, porque  quando ela me contou sua história, tentava inutilmente disfarçar  sua voz mudando, e seus olhos marejarem.
Eu, fingida como sou, me fiz de distraída , mas prestei foi muita atenção,mesmo  fingindo, como ela,  que o assunto nao tinha muita importância…
Mas então ela era uma menina, uma criança  quando seus pais se separaram.
Eu trago comigo que quando um casal se separa, existem sempre as 3 versões para o acontecido:  a dele,  a dela, e a real.
Pessoas se apaixonam a todo instante , e deixam de se amar a todo instante, se não na mesma proporção, numa proporção mais ou menos que equivalente.
E por alguma razão, aquele casal também deixou de se amar. Até aí, nada demais, se a mãe da menininha, ao resolver partir, não tivesse decidido deixar pra trás a sua filha. Aliás, não era só uma filhinha que ela deixou, mas sim, três.
Foram dormir com uma família, acordaram sem mãe.  Quase consigo visualizar aquele pai, de repente se vendo sem a mulher amada , tendo que trabalhar e também cuidar sozinho dos três filhos pequenos. 
E a mãe foi embora, assim, como quem assina o check –out  no hotel fazenda, pega suas malas e segue para a vida.
Após um longo tempo, houve a necessidade do divórcio. Ela precisava  legalizar a separação.
Então a menininha arrumou-se toda, ajudou os irmãozinhos a ficarem bonitos e perfumados. Sentaram-se com cuidado no sofá da sala e esperaram a visita tão aguardada da mãezinha, que não viam há tanto tempo.
No fórum, o Juíz  perguntava a ela sobre o pátrio poder, hoje, poder familiar, que a mãe exercia sobre os filhos, mesmo no caso dela, que os deixou com o pai e nunca voltou para visitá-los. Afinal, mãe é mãe, deve ter pensado o juíz.
Mas a mãe, ( pois bem, vamos lá, mocinha,  digite seu texto ).
A mãe abriu mão dos direitos de mãe.  A mãe não queria mais brincar de ser mãe. Só queria assinar os documentos e ir embora.
E assim o fez.
O pai perguntou se ela não queria ao menos dar uma passadinha em casa, pois as crianças estavam aguardando por ela  fazia horas. Fazia meses. Fazia anos….
Mas a mãe estava com pressa,  não podia se atrasar para a vida.
A menininha e seus irmãozinhos ficaram muito tristes. Muito mesmo. Sentiram-se novamente abandonados. Rejeitados. Sentiram-se feios e sem encanto. Sentiram-se  sozinhos,  como flor sem raíz, como manhãs sem Sol, como uma coisa que simplesmente está lá, mas que não tem nenhuma importância.
Enxugaram suas lágrimas e seguiram em frente, porque  Deus ajuda . Continuaram enxugando as lágrimas ao longo dos dias, ao longo da vida, cada qual a sua maneira.
Apesar dela ser uma mãe maravilhosa, o dia das mães é sempre uma data difícil pra ela. As meninas não sabem o que é ter uma avó, e tampouco ela sabe o que é o amor de mãe.
Mas suas filhas sabem, porque graças a Deus, existe o anti-enredo, e ela buscou ser pra suas filhas, a mãe que ela nunca teve.
Escrevo esse texto,  primeiro porque há muito tempo ele  insitia em nascer.
Segundo porque ainda hoje, ela procura por sua mãe.  Espera por ela, com o mesmo amor que a menininha um dia esperou, sentadinha no sofá da sua sala.
Procura em sites, em rádios do Paraná,  procura em segredo,procura em oração, procura por sua mãe.
E como coisas boas acontecem a todo instante , quem sabe alguém entre aqui ao acaso e conhece essa pessoa? Deus faz milagres o tempo todo e eu acredito neles. 
E  finalizo  com a cópia do “Procura-se” que ela, a menininha do sofá da sala, distribuiu  , sem sucesso, por todos os sites que ela encontrou:
Procuro por Elziana de Souza Ferreira , filha de Elza de Souza Ferreira e Teodomiro Rodrigues Ferreira e seus irmaos ,Lisete ,Silvia Jaime , Neno . Gostariamos de saber de nossa mae …. sao seus filhos Rosana de Oliveira Souza e Diana de Oliveira Souza eJulio Cesar de Oliveira Souza ,estamos ha muito tempo a sua procura ,esperamos que nos perdoe por nao ter te achado a mais tempo”.
E é por essas e outras que desacredito de mim, quando  muitas vezes penso que a humanidade não tem mais jeito.  Tem jeito sim. Porque assim como existem pessoas que dão à luz sem  ao menos serem dignas da maternidade,  existem também menininhas que, mesmo tendo sido abandonadas, ainda assim, carregam dentro de si, o amor, o perdão, a esperança do reencontro.

(Dedico esse texto à Diana, uma pessoa que aprendi a respeitar e admirar demais...)